Fisioterapia nas fraturas expostas

As fraturas incluem-se nos problemas médicos mais comuns, podendo ocorrer em pessoas jovens e sadias. Os idosos, entretanto, apresentam um risco especial para fraturas, porque seus ossos estão freqüentemente na identificação do.tipo e da extensão do trauma e na criação do ambiente biológico que maximize os processos normais de reparação do osso. Os traumas ao sistema músculo-esquelético podem assumir muitas formas diferentes, dependendo do mecanismo do trauma, da quantidade de força deformativa aplicada ao esqueleto e do local em que a força é aplicada. Muitos termos e sistemas de classificação são usados para definir os tipos de traumas. Embora a maioria das fraturas cicatrizem bem, mesmo em pacientes mais idosos, muitas podem resultar em perda significativa e permanente da função e em incapacidade a longo prazo. Uma interrupção na continuidade do osso, que pode ser um rompimento completo ou incompleto. Fratura e a quebra da superfície do osso, seja através do seu córtex, seja através da superfície articular dela. As fraturas podem variar desde o simples trincamento até o rompimento completo da arquitetura óssea. A fratura através do córtex perturba a função normal da sustentação de peso do osso. O periósteo que recobre a área é rompido e o sangramento no local de fratura produz hematoma. O paciente que fratura um osso foi submetido a uma força física.

Num osso normal a quantidade de força determina se a fratura é completa ou não, nas crianças os ossos ainda são flexíveis e as fraturas incompletas (em galho verde) são comuns. Se a força traumática for insuficiente para fraturar um osso normal, a fratura é dita é patológica e uma investigação posterior é essencial. Com uma força traumática direta, o osso fratura no local do impacto, as partes moles também serão danificadas. Com uma força traumática indireta, o osso fratura à distância de onde foi aplicada a força traumática, podendo ou não ocorrer a lesão das partes moles.

Uma força indireta pode ser:

(1) torção, a qual causa uma fratura em espiral;

(2) flexão, que causa fratura transversal.

(3) torção e compressão, que resulta numa fratura parcialmente transversa, porém com um fragmento triangular dito borboleta em separado; ou

(4) a combinação da torção, flexão, compressão que causam uma pequena fratura oblíqua.

Uma força direta pode ser:

(1) puncionamento, o qual causa uma fratura transversa e alguns danos à pele; ou

(2) esmagamento o qual causa fratura, a qual muitas vezes leva danos à extensão dos tecidos moles. As fraturas são classificadas em fechadas ou expostas. Aqui, porém, serão descritas apenas as expostas.

 

FRATURA EXPOSTA

A presença de uma fratura exposta altera significativamente o seu manuseio e pode influenciar negativamente a possibilidade de uma cura completa, já que freqüentemente existe uma extensa lesão em partes moles, ou mesmo unia contaminação. A fratura exposta infectada não ficará curada até que a infecção tenha sido eliminada. Conseqüentemente, para prevenir infecção no membro com a fratura exposta, esta deve ser recoberta com material esterilizado não devendo ser feito a redução da fratura nestas condições, fora do ambiente adequado. Este tipo de tratamento emergencial evita a penetração de material contaminado no foco de fratura até que as extremidades ósseas sejam cuidadosamente limpas pelo cirurgião e adequadamente tratadas.

No tratamento destas fraturas, é essencial a reconstituição anatômica das superfícies articulares a fim de levá-las a sua condição original. Uma destruição cartilaginosa grave, ou uma superfície articular irregular, pode levar a unia artrite degenerativa precoce. A idade e o estado do geral do paciente são dois importantes fatores que influenciam a velocidade de consolidação de uma fratura. Na criança, o fêmur fraturado pode consolidar-se em quatro semanas. A mesma fratura em um adolescente pode necessitar de 12 a 16 semanas paira a sua consolidação, e numa pessoa de 60 anos pode demorar de 18 a 20 semanas. A presença de diabetes ou outras patologias, tais como a osteoporose, irá prolongar o período necessário para que ocorra a consolidação. Há necessidade de uso de certos medicamentos. como corticosteróides para alergias, ou para outras condições clínicas, podendo promover um efeito lentificado no processo de consolidação da fratura. Existe a pseudoartrose, termo usado para designar a não consolidação das extremidades ósseas. Além dos fatores ditos anteriormente, que lentificam o processo de consolidação, dois outros fatores podem influenciar o aparecimento da pseudoartrose: contaminação no foco da fratura em virtude de uma solução de continuidade na pele, e movimentação no foco de fratura. A contaminação é causada por material estranho, tecido desvitalizado, ou bactérias, sendo que todos inibem o processo de reparação e retardam ou impedem a consolidação cuidadosa. A manipulação dos tecidos desvitalizados e uso apropriado de antibioticoterapia podem diminuir a incidência de pseudoartrose nas fraturas expostas. A movimentação no foco de fratura é pelo menos uma das causas de pseudoartrose. A movimentação pode existir caso o gesso seja mal colocado, ou por dispositivos aplicados internamente, tais corno hastes ou placas. Esta é a razão de um princípio básico do manuseio da fratura: imobilizar o osso fraturado em um articulação acima e outra abaixo do foco de fratura, por um tempo adequado para a completa recuperação. Entretanto, a imobilização pode levar a urna diminuição da resistência muscular (atrofia) e óssea (osteopenia por desuso), por isso, o período de imobilização não deve ser maior do que o necessário para produzir a consolidação. Este período é determinado pelo controle radiográfico e pelo controle médico.

A imobilização promove a recuperação pela absorção do edema, permitindo a formação de uma vascularização ao redor da fratura que fornece um rico suprimento sanguíneo para nutrir o calo ósseo e, posteriormente, um osso novo.

O protocolo de manuseio de uma fratura exposta deve ser individualizado para cada paciente, baseado no tipo de fratura, sua localização e método de estabilização.

Mesmo com os cuidados adequados pode existir o aparecimento de uma pseudoartrose. Estas são mais possíveis de ocorrer em ossos em que o suprimento vascular é precário. Dois exemplos notórios são a cabeça do fêmur e o osso navicular do metacarpo.

Por ocasião da identificação da pseudoartrose, o tratamento consiste no controle da micção (quando presente), imobilização da fratura (que pode ser por aparelho gessado, placas e parafusos, hastes ou outras técnicas de fixação mecânica) e, geralmente, com enxerto ósseo. O enxerto ósseo consiste na retirada de pequenas quantidades de osso de alguma área do próprio corpo ou mesmo do corpo de terceiros. O osso é retirado e colocado no foco da pseudoartrose. Quando o osso é retirado do próprio paciente é chamado de enxerto autógeno e quando é retirado de outras pessoas ou de cadáver é denominado exógeno. O uso desse ultimo enxerto exige uma técnica rigorosa para evitar a transferência de infecção ou de outras doenças. Os focos de pseudoartrose assim estimulados pelo enxerto ósseo geralmente evoluem para a consolidação.

 

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS

1. Choque - varia de acordo com a extensão das lesões, posicionamento dos fragmentos, idade do paciente e circunstâncias do trauma.

2. Dor - Isto também varia de acordo com as circunstâncias mencionadas em 1.

3. Deformidade - é notável quando há deslocamento dos fragmentos ósseos.

4. Edema - é localizado imediatamente após a lesão e, a seguir, gradualmente mais extenso.

5. Sensibilidade local acentuada - uma característica importante numa lesão que parece ser trivial.

6. Espasmo muscular.

7. Movimento anormal e crepitação - Nunca se deve lazer tentativa de reproduzir essas alterações, pois poderia provocar maiores danos.

8. Perda da função - Pode ser compelia nas lesões graves, mas uma certa atividade pode ser possível quando a lesão é menos grave.

Após a redução e fixação a dor na maioria das vezes permanece por um tempo razoável dependendo dos problemas associados aos tecidos moles. Outro fator importante presente é o edema que leva a dificuldade na obtenção da fixação adequada, a perda da função é também variável do tipo de fratura e seu tratamento. Às vezes, a função normal pode ser readquirida muito rapidamente com o tratamento fisioterápico adequado, porém, em outros casos, surgem vários problemas, para os quais o tratamento intensivo é necessário.

 

OBJETIVOS FISIOTERÁPICOS (durante e após a fixação)

- Diminuir o quadro álgico

- Reduzir o edema

- Melhorar a circulação local

- Manter e melhorar o tônus muscular

- Manter a integridade articular

- Melhorar tônus muscular

- Reeducação funcional do membro

 

TRATAMENTO FISIOTERÁPICO

Pode ser dividido em tratamento durante a imobilização e após a remoção do Aparelho de fixação.

O fisioterapeuta deve ser cuidadoso para evitar qualquer coisa que possa retardar o reparo ou levar à pseudo-artrose. Assim, é essencial que os princípios das fraturas salientados anteriormente neste capítulo sejam compreendidos e que se promova uma discussão com outro membro da equipe cirúrgica para certificar-se da necessidade de qualquer precaução em particular. Nenhum aparelho deve interferir, a menos que a remoção para o tratamento seja possível, e se assim for deve ser meticulosamente protegido enquanto está sem aparelho . O fisioterapeuta deve estar alerta para as possíveis complicações e relatar qualquer sinal indesejável ou sintomas.

 

TRATAMENTO DURANTE A IMOBILIZAÇÃO

Os objetivos durante esse período são:

- Redução do edema - É muito importante tomar essa providência o mais rápido possível para evitar a formação de aderências. Isso também ajuda a diminuir a dor.

- Ajudar a manutenção da circulação na área - o exercício ativo através da atividade muscular estática ou isotônica ajuda a manter um bom suprimento sanguíneo nos tecidos moles e concorre para reduzir a tumefação e evitando a formação de aderências.

- Manter a função muscular por contrações ativas ou estáticas.

- Manter o arco de movimento tanto quanto possível.

- Manter o máximo de função permitida pela lesão em particular e pela fixação.

- Ensinar o paciente como usar os aparelhos especiais como muletas, bengalas, dispositivos diversos e como cuidar deles ou de qualquer outro aparelho.

 

FISIOTERAPIA APÓS A RETIRADA DO APARELHO DE FIXAÇÃO

O fisioterapeuta realiza uma avaliação do paciente e então formula um plano de tratamento. Embora certas características clínicas possam ser aguardadas na evolução se uma determinada fratura elas aparecem em graus diferentes em cada paciente e, em certos casos, podem não estar relacionados com a idade, família, profissão, lazer e reações psicológicas do indivíduo. Todos devem ser levados em consideração no planejamento do programa de tratamento e na avaliação do progresso, de modo que as alterações apropriadas possam ser introduzidas.

Os objetivos do tratamento relativo à fratura incluem:

- redução de qualquer edema

- reaquisição do arco de movimento articular

- reobtenção da potência muscular total.

- reeducação da função total.

Cuidados Ulteriores e Reabilitação para Pacientes com Fraturas.

Lembrando que os objetivos de todo tratamento de fraturas são.

- aliviar a dor

- obter e manter posição satisfatória dos fragmentos fraturários;

- permitir e, se necessário , estimular a consolidação óssea;

- restaurar uma função ótima.

O mais importante desses é a recuperação da função, pois o que lucraria um homem se alcançasse a consolidação de sua fratura em uma posição satisfatória, mas falhasse em recuperar a função útil da parte traumatizada?

Quanto maior o grau de função que possa ser preservado durante o tratamento da fratura do paciente menor será o grau funcional que terá que ser restaurado . Assim, a reabilitação de um paciente começa com o cuidado imediata de sua lesão, continua por meio do tratamento de emergência, passa ao tratamento definitivo, até que seja restituído ao paciente a função normal ou mais normal lesão permita.

O edema excessivo e persistente dos tecidos moles produz aderência semelhante a cola, com conseqüente rigidez articular; portanto, ele deve ser minimizado ou evitado pela elevação adequada do membro fraturado durante a fase de consolidação da fratura, bem como a melhoria do retorno venoso através de exercícios ativos de todos os músculos regionais. Músculos que não são usados exibem rapidamente atrofia por desuso, que podem ser prevenidas através de exercícios ativos estáticos (isométricos) dos músculos que controlam as articulações imobilizadas e exercícios ativos dinâmicos (isotônicos) de todos os outros músculos do membro, ou tronco. A fisioterapia supervisionada é particularmente importante no cuidado posterior dos adultos com fraturas, o paciente tem que ser ajudado e ajudar a si próprio. Todas as articulações que não estão imobilizadas pelo tratamento da fratura devem ser diariamente mobilizadas em todos os graus de movimento pelo paciente.

Em acréscimo à preservação da função dos músculos e articulações após uma fratura, você deve pensar em preservar função da mente do paciente, já que a atitude mental deste para com sua lesão determina em considerável extensão o grau em que ele irá se recuperar da mesma. De fato considerações psicológicas, somadas a bons cuidados da fratura do paciente geralmente podem prevenir desânimo desnecessário, depressão e preocupação indevida em relação ao futuro. Muitos pacientes recobram a função rapidamente, alguns precisam de ajuda e outros, mais tímidos e introvertidos necessitam de encorajamento constantes em seus esforços.

Após o período de imobilização externa da fratura os exercícios ativos devem ser continuados, até mesmo mais vigorosamente, até que a força muscular normal e a mobilidade articular tenham sidos recuperados. Se necessário o paciente deve ser retreinado nas atividades de vida diária e da profissão, geralmente através de terapia ocupacional supervisionada. Além disso, após um período de afastamento do trabalho, a condição geral do paciente se encontra deteriorada e ele pode precisar iniciar um programa de condicionamento físico geral antes de retornar ao trabalho; isto é com freqüência melhor elaborado num centro de reabilitação.

 

REABILITAÇÃO - UMA FILOSOFIA EM AÇÃO

A reabilitação não é uma técnica especializada de tratamento, nem um método de tratamento, e nem mesmo um princípio de tratamento; a reabilitação é uma filosofia em ação, a filosofia do cuidado total e do cuidado contínuo de seu paciente. O amplo objetivo ou meta da reabilitação é corrigir, o máximo possível, o problema de seu paciente (quer seja físico, mental, ou social) e além isso, continuar a ajudá-lo com tratamento, treinamento, educação, estímulo para lidar com o lado incorrigível de seu problema e sua atitude em relação a ele, de modo que sua vida possa passar de uma dependência para uma independência, de uma vida vazia para uma vida mais útil. De uma certa maneira a reabilitação é tentar ir o mais longe possível com seu paciente, e isto é valido para todos os campos da medicina e da cirurgia nos seus problemas de incapacidade.

 

CONCLUSÃO

Na reabilitação de uma fratura é indispensável uma boa anamnese para se obter um diagnóstico preciso e traçar o tratamento adequado para cada situação, uma vez que são casos totalmente únicos e isolados.
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