Lesão do Ligamento Cruzado Anterior e a Fisioterapia




O joelho é uma das mais complexas articulações do corpo humano pois possui uma  estrutura cápsulo-ligamentar complexa. Ele deve suportar grandes forças, dar estabilidade e possuir uma grande amplitude de movimento, tudo isso é fornecido pelas estruturas ósseas, musculares, ligamentares e menisco. Funcionalmente, é indispensável para locomoção e movimentos básicos como corrida, sentar entre outros.

Dentre essas lesões, as comumente ocorridas são as ligamentares, com evidência para a lesão do ligamento cruzado anterior (LCA) . O LCA é o ligamento do joelho lesionado em boa parte de todas as lesões ligamentares, em que a maioria destas ocorre em atividades esportivas, principalmente as que envolvem aceleração e desaceleração. No consultório, há muito mais recperação para esse tipo de lesão do que lesão de outros ligamentos da região.

Na maioria dos casos, o tratamento da ruptura do LCA é cirúrgico, visando reestabelecer a função articular. A cirurgia consiste na reconstrução ligamentar através de enxerto realizado com tendões, como o tendão patelar e dos músculos grácil e semitendinoso, para formar um neo-ligamento e criar uma réplica do ligamento original, porém para obter capacidade funcional igual ao membro não operado é necessário reabilitação.

A fisioterapia após a ligamentoplastia do LCA tem o objetivo de controlar a inflamação, ganho do arco de movimento e aliviar a dor. Já na fase final a fisioterapia da enfoque no recrutamento muscular e estímulo sensório-motor.

Fernandes e Macedo (2009) afirmam que na fase pós-cirúrgica a fisioterapia tem como objetivo diminuir edema evitando uma possível inibição reflexa do músculo quadríceps e treino de marcha. Na fase clínica deve-se manter a extensão completa de joelho, aumentar força e mobilidade patelar, o que concorda com os estudos de Bossine e Mesquita (2011) e Dambros et al.,(2012) que diz que a reabilitação é fundamental após a reconstrução cirúrgica do LCA, segundo os autores o tratamento fisioterapêutico tem o objetivo de reduzir o quadro álgico, edema, processo inflamatório, melhora do controle neuromuscular, força muscular, amplitude de movimento (ADM), marcha e propriocepção.

De acordo com os estudos de Pereira e Souza (2012) e Soares et al.,(2011) os exercícios em cadeia cinética fechada (CCF) são mais indicados quando comparados com exercícios em cadeia cinética aberta (CCA) porque são exercícios multiarticulares onde ocorre uma flexão simultânea de quadril, joelho e tornozelo, gerando uma co-contração de diversos músculos. Esse fator é importante para a estabilização dinâmica e recrutamento muscular semelhante a atividades o do dia a dia, sendo assim exercícios mais funcionais e eficientes para a reabilitação do LCA e evitam a translação da tibia anteriormente, que é um movimento prejudicial para o exerto de LCA.

Nos vários protocolos encontrados, existem dois principais para a reabilitação pós-cirurgica de LCA, sendo eles:

  • Normal: tem como objetivo recuperar o joelho de pacientes não atletas e o tempo de tratamento pode chegar até a oito meses (BOSSINO, MESQUITA, 2011)
  • Acelerado: chega de quatro a seis meses de tratamento, para reabilitar o paciente atleta no menor tempo possível, afim de deixa-lo apto para as suas atividades profissionais (BOSSINO, MESQUITA, 2011).

Pode-se notar que tanto o protocolo normal quanto o acelerado tem o intuito de deixar o paciente o mais funcional possível, sendo basicamente um só, diferenciando apenas na forma de usa-los, adequando sempre às necessidades do paciente, Pimenta et al.,(2012) propôs as seguintes condutas:

  • Primeira fase: mobilização patelar, isometria para ganhar amplitude de movimento (ADM), imobilização de joelho em extensão, controlar o edema, dor, deambulação com muletas sem apoio do membro operado, mobilização passiva continua (CPM).
  • Segunda fase: deambulação com carga parcial com auxílio de muletas e imobilizador em extensão, exercícios isotônicos sem carga, a ADM passiva deve está em 90º, o objetivo e ganhar até 120º, exercício ativo livre para flexão e extensão de joelho, propriocepção sem descarga de peso, alongamentos leves.
  • Terceira fase: entra os exercícios em cadeia cinética fechada (CCF), elevação da perna com peso, bicicleta, alongamentos mais fortes, iniciam-se trotes em linha reta e com mudança de direção.
  • Quarta fase: o paciente continua os alongamentos, o ganho de ADM deve estar completo, continuar exercícios em CCF e dar inicio aos exercícios e cadeia cinética aberta (CCA), deve-se continuar a propriocepção e pliometria, iniciar treino de atividade esportiva (corrida em linha reta, com mudança de direção, corrida em oito), deve-se iniciar musculação e natação liberando o paciente para suas atividades esportivas.

Confirmando o relato dos autores acima já citados, para Bossini e Mesquita (2011), a intervenção fisioterapêutica é importante no pós-operatório imediato porque atua diminuindo o quadro álgico, melhorando a segurança do paciente, diminui aderência e melhorando o tônus do quadríceps, acelerando a alta hospitalar e a recuperação da funcionalidade do paciente. O uso do protocolo de reabilitação é importante também para que ele não tenha uma lesão reincidiva e também não aconteçam lesões secundárias. Após a fase de reabilitação o indivíduo deve continuar fazendo um programa de prevenção de lesão, fazendo assim uma manutenção do quadro.

A fisioterapia age aumentando a amplitude de movimento, ganho de força, melhora a cicatrização dos tecidos lesionados e redução de espasmos muscular. Pode-se perceber o uso de vários recursos nessa fase de pós-operatório, os protocolos independente se normal ou acelerado trazem respostas positivas para a recuperação funcional.

O uso do protocolo é importante para que não haja uma lesão reincidiva ou secundária. Após a reabilitação deve-se continuar um programa de prevenção de lesão para a manutenção da funcionalidade.

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